Massa Maluca

A fórmula para alcançar a felicidade torna-se progressivamente mais complicada à medida que os anos passam. São adicionados vários fatores complexos e, na nossa cabeça, necessários à medida que transpomos para a fase adulta. Na realidade, a equação para se ser feliz é simples, de tal forma simples que é incompreensível para o cérebro dos “maiores” e apenas a espontaneidade e inocência das crianças entende estes cálculos.

Fui relembrado deste facto quando, no dia 24 de março deste ano, a turma Infantil 3A  deu-me uma lição desta “matemática”. O plano inicial não era esse. Na verdade o objetivo da nossa visita consistia em apresentarmos a estes principiantes estudantis qualquer tipo de atividade ou projeto que se baseasse no tema da Ecologia. As opções eram vastas: desde temas sobre a reciclagem, a poluição, os animais, desporto ou até mesmo uma simples brincadeira. Este trabalho, comandado pelos professores de ERMC, pretendia que nós interagíssemos com estes miúdos de forma a que lhes captássemos a atenção e neles incentivássemos a vontade de aprender algo novo. Eu e dois dos meus colegas do 12º3, Leandro Pimenta e Vasco Figueiredo, optámos por uma atividade baseada mais no divertimento sem qualquer função educativa aparente, ou seja, escolhemos demonstrar e ensinar a criação da chamada (pelos tutoriais abrasileirados do Youtube) “Massa Maluca”, uma mistura de água com amido de milho que forma uma pasta pegajosa que se encontra tanto no estado sólido como no estado líquido. E eis o começo da aula de “matemática”. A genuína e completa expulsão de entusiasmo refletida nos olhos de cada miúdo que levantou o braço assim que eu perguntei: “Quem é que gosta de sujar as mãos?” relembrou-me que a felicidade não tem de ser pensada, mas repentina e incontrolável. Para estas crianças, a felicidade baseava-se em espetar dedos numa massa viscosa, em transbordar uma mão cheia para ver quem fazia a maior “ranhoca”, em rirem-se em conjunto no fim da experiência porque um estava mais sujo que o outro, quando na verdade era toda uma comunhão de imundice peganhenta em tudo o que era mãos, mesas, chão e, para a “felicidade” dos pais, até mesmo roupa.

A felicidade é isto: inconsciente, infantil, inconveniente, incalculável e incomparável. Bem sei que, na realidade, aquelas crianças certamente experienciam atividades que causam tamanha felicidade diariamente e que provavelmente poucas memórias guardarão daquele dia de 24 de março. No entanto, tirando isso, gostei bastante de fazer parte deste trabalho, não tanto no sentido prático em que tudo se decorreu, uma vez que é de apontar que houve crianças que não gostavam de se sujar e naturalmente não participaram, mas no sentido em que, num projeto onde os “maiores” tinham a suposta tarefa de ensinar ou guiar, a moeda reverteu-se e foram aqueles miúdos que acabaram por dar uma lição de vida aos “crescidos”, que já andam nisto à alguns anos.

 

Pedro Emauz Silva

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